domingo, 24 de fevereiro de 2013

O sonho


           Ela abriu os olhos lentamente como se não quisesse despertar. Encontrava-se em um lugar muito bom para querer voltar. Apesar de abertos seus olhos pareciam buscar a continuação de seu sonho, perdendo-se no vazio do teto empoeirado do quarto, agora tão espaçoso sem ele.
           O quarto já começava a abandonar a fria escuridão da noite com o penetrar brando do sol da manhã que também acabava de despertar. Ainda se podia ouvir o zumbido chato dos mosquitos noturnos que tiravam seu sono e a esperança de voltar a sonhar aquele mesmo sonho. 
          Infelizmente era apenas sonho... Ele estava ali ao seu lado, seus olhares se entrela-çavam outra vez, porém sem ressentimentos ou mágoas. Eram comuns novamente. O mosaico que montava aquela cena carecia de demora, de tempo no vislumbramento.
           Tudo é misterioso e os mistérios só se revelam na contemplação, no olhar detalhado e constante, na busca por detalhes. Só se conhece bem aquilo que fazemos questão de desvendar o seu mais profundo detalhe. Era exatamente o que ela desejava.
           Desejava contemplar eternamente aquela cena presente em seu sonho. Para quem sabe extrair dali as respostas que sua alma tanta ansiava... Os porquês não respondidos, as conversas inacabadas, os finais injustificados.
           Mas do que respostas, ela desejava tocá-lo, senti-lo mais uma vez, esquecer por um instante o que aconteceu e se render a saudade que teimosamente relutava em viver dentro do seu coração. Sabia que não era possível encontrá-lo em sua realidade, afinal seu orgulho não a deixava insistir mais uma vez. Aquele coração era porta que sua mão já cansara de bater sem resposta. 
           Não houve mais tempo pra sonhar, o alarme do despertador anunciou a hora de levantar e a porta da fantasia se fechou. Os sonhos assim como as oportunidades que passam em nossa vida se vão rapidamente e dificilmente voltam a nós.
           Aquele sonho se foi e ao acordar ela percebeu que sua vida andou depressa demais e que os tempos já eram outros. Levantou, vestiu-se, maquiou-se e se foi assim como o sonho.

Um comentário:

  1. E quantas vezes de olhos abertos você já sonhou e em seguida se pegou pedindo a Deus que tudo fosse verdade?

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